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Bate-papo

Espalhando sororidade pelo mundo, Babi Souza

Jornalista e empreendedora, a ativista conta como o feminismo surgiu na sua vida e porque é importante que as mulheres se unam

por Naiara Silveira

Um exemplo de empreendedorismo e vontade de fazer a diferença na vida de outras mulheres: essa é a Babi Souza. Aos 28 anos é jornalista, psicoterapeuta em formação, criadora do movimento Vamos Juntas e da Bertha - Mentoria em Comunicação. E ainda é feminista, sim senhor! Esse rótulo, que hoje ela assume com orgulho, veio da infância, quando já questionava os padrões sexistas da sociedade. Empreendedora, ela ajuda outras mulheres a se desenvolverem pessoal e profissionalmente. O Desafio Você Empoderada é um desses projetos, que a conectou ainda mais com outras figuras femininas que precisam de ajuda pelo Brasil a fora. E ajuda a mulheres que precisam a Babi não nega! É sororidade e amor espalhados pelo mundo. Conheça um pouco mais da Babi na entrevista abaixo:

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"Eu não acredito num mundo em que a gente vai ter mais equidade sem sororidade" - Babi Souza

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Lembro de uma palestra sua que acompanhei, na Universidade de Santa Cruz, onde você comentou que já era feminista desde a infância, porque questionou o nome da escolinha em que ia. Você pode falar um pouco da sua história com o feminismo?

 

Eu sempre tive esse mind setting de entender desigualdade de gênero. Eu venho de uma família matriarcal. Meu avô faleceu bem cedo, então a família da minha mãe era minha avó, três mulheres e um filho - e o filho também viajava bastante. Então eram mulheres, mulheres e mais mulheres. E eram mulheres que passaram por muitas dificuldades. Minha avó sofreu violência psicológica, passou por vários episódios difíceis com meu avô... Então a mensagem que se passava era ‘mulheres podem’, ‘mulheres são fortes’, ‘mulheres sobrevivem’, ‘mulheres precisam saber viver por elas, conquistar as suas coisas, não dar bola para homens’, né? E a vivência era entre muitas mulheres, entende? Minha avó viúva, todas as minhas tias separadas, a minha mãe separada também... No geral era essa a mensagem. E em casa eu também via isso muito, com a minha mãe e meu pai. Minha mãe tinha muito mais deveres e meu pai muito mais direitos, então eu começava a perceber que 'poxa, eu sou mulher eu não quero ter tantos deveres sozinha e menos direitos'. Então eu analisava muitas coisas, desde criança. Assim como essa história da creche que é bem legal, né? O nome da creche era 'Garoto Sapeca' e eu dizia 'poxa, só menino, só garoto, eu sou garota, por que só os meninos estão representados?' Essas histórias acabavam trazendo um discurso muito feminista ainda que eu não soubesse o que era feminismo.

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O primeiro trabalho com o feminismo que você desenvolveu foi o Vamos Juntas? Você acredita que o movimento tenha desmistificado alguns tabus que cercam o feminismo?

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O meu primeiro trabalho com feminismo foi, sim, o ‘Vamos Juntas’. Na adolescência eu não me considerava feminista pelo simples fato de que eu não sabia o que era feminismo! Mas eu acredito de verdade que, assim como todas as grandes ideias, o feminismo e a sororidade estavam no ar em 2015 e eu pesquei isso né? Vários movimentos em prol da equidade de gênero surgiram mais ou menos ali naquela época. O Vamos Juntas foi meu primeiro contato real com o feminismo. Isso que é o mais interessante, eu não era ativista, não era muito envolvida com causas do feminismo, não. E foi justamente com o Vamos Juntas que eu abri os meus olhos para esse universo, para essa necessidade de falar sobre tudo isso, porque até então eu tinha um discurso feminista muito meu, muito próprio, muito do que eu vivi. Sem falar que eu não convivia com outras mulheres feministas, não convivia com outros movimentos. Então toda a minha história com o feminismo era do que eu ouvia na minha casa, das reflexões que eu fazia, sabe? Eu não era ativista. Tanto que quando eu criei o Vamos Juntas eu praticamente fiz uma curadoria, chamei algumas amigas que já eram feministas há muito tempo, que já participavam de movimentos, tirei algumas dúvidas com ela… Aí eu comecei a entender o que era o feminismo, entender o que era sororidade. Isso é bem interessante porque eu fui impactada pelo movimento que eu mesma criei. E isso acaba acontecendo até hoje. O movimento leva muito de mim, tem muito a ver comigo. Eu transformo o movimento e o movimento também me transforma.

Foto: Reprodução/Facebook

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Babi lançou livro sobre o movimento

Depois do Vamos Juntas, que foi um verdadeiro sucesso, você criou a Bertha - Mentoria em Comunicação. Qual foi o objetivo de criar essa empresa, voltada para mulheres empreendedoras?

 

Sim! A Bertha é uma empresa focada em fazer comunicação para marcas de mulheres. Eu percebi, muito também estudando a Bertha Lutz (é por isso que o nome é Bertha), que o feminismo precisa ser prático. A gente precisa falar de machismo estrutural, a gente precisa falar de sexismo estrutural, e perceber que além de falar ‘mulher se empodera’, ‘mulher se emancipa’, a gente precisa fazer com que isso de verdade aconteça. Quando eu criei a Bertha, meses depois do Vamos Juntas, esse foi o meu objetivo. Percebendo que as mulheres se empoderam muito através do mercado de trabalho, através do empreendedorismo feminino, eu pensei: ‘o que eu posso fazer para contribuir com tudo isso’? Eu acredito, acreditava, continuo acreditando e acho que por muito tempo ainda vou acreditar, que o setor mais importante de uma empresa é a comunicação. Então, não adianta a mulher ser maravilhosa, ter uma empresa maravilhosa, ser muito foda no que ela faz, se ninguém ficar sabendo, se ela não saber se vender, se boicotar, se não entender gatilhos mentais… Então foi por isso que surgiu a Bertha.

Você acredita que é mais difícil para que nós, mulheres, entremos no mundo do empreendedorismo? Por quê?

 

Com toda certeza! E eu acho que é simplesmente porque tudo para as mulheres ainda é mais difícil, né? Nós temos muitas crenças limitantes e além das nossas crenças limitantes, tem as crenças das outras pessoas que acreditam que nós não temos tanta capacidade quantos os homens. Eu acho que se uma mulher é muito foda em alguma coisa ela é muito, muito, muito foda em alguma coisa. Se ela tem reconhecimento é porque ela é mais foda ainda do que se parece. Porque para um homem ter destaque só tem que ser bom, sabe?  Bonzinho, porque, às vezes, nem bom é e tem destaque! E a mulher não. A mulher, para ela ter destaque, esse reconhecimento, ela precisa ser muito foda, ela precisa ir muito além das expectativas, precisa ir muito além do que um homem conseguiria. Então eu acho que muito disso é por causa das nossas crenças limitantes. E eu acho que o Vamos Juntas é muito nesse momento assim, desse olhar para dentro das mulheres. De dizer para elas olharem para dentro delas mesmas e se responsabilizarem. Porque é bem diferente de se auto culpar. A gente não se culpa por uma sociedade sexista, obviamente. A culpa não é nossa. Mas a responsabilidade sobre a nossa própria vida, de uma vida de plenitude, de sucesso, essa responsabilidade é nossa. A gente tem essa essa capacidade. E a auto responsabilização tem muito a ver com isso, com a capacidade que eu acredito que eu tenho de tomar as rédeas da minha própria vida. Então eu acredito que é todo esse discurso destrutivo que faz o empreendedorismo, assim como qualquer coisa para as mulheres, ser mais difícil. Sem contar, é claro, que existe em todo mundo uma ideia de que para ter negócio a gente precisa ser racional e que as mulheres não sabem ser racionais, ou de que a gente precisa ser frio e que as mulheres não sabem ser frias. O que também são crenças, além de limitantes, completamente sem fundamento, né?

 

Um dos seus últimos projetos foi o Desafio Você Empoderada. Como foi criar esse projeto e desenvolver cada uma das atividades?

 

Foi maravilhoso, porque o movimento acaba tendo muito a ver com as minhas vivências. É legal desabafar, é legal conversar com outras mulheres para compartilhar, tipo assim: ‘nossa,  realmente o mundo é foda, o mundo é machista, sexista, mas o que que eu posso fazer?’ Não de ficar só naquilo ali, só na dor, só vendo como o mundo é machista e achando que isso pode nos limitar ou que a vivência de uma violência pode me fadar a nunca mais ter uma vida plena, uma vida feliz, uma vida leve, uma vida de reconhecimento, né? Então o desafio veio muito por isso. ‘Poxa, vamos se curar’, sabe? A gente consegue se curar. E isso, eu acredito, a gente só consegue olhando para dentro da gente e não para fora. O desafio acabou sendo muito isso, acabei trazendo todos esses estudos que eu tenho feito ou mesmo da formação de psicoterapeuta e colocando em prática na minha vida o que eu vi de maior resultado. E com certeza é muito importante mudar a forma como a gente enxerga as coisas, o que nos falta. Eu trouxe isso para o desafio e foi muito legal, eu tive muitos feedbacks maravilhosos!

Foto: Reprodução/Facebook

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"A mulher, para ela ter destaque, reconhecimento, ela precisa ser muito foda" - Babi 

O desafio falou de desintoxicação, de autoconhecimento, até de auto sabotagem. Você acredita que esses temas devessem ser mais discutidos? Por quê?

 

Eu acredito que a gente precisa se auto responsabilizar para a gente não ser vítima de nós mesmas, vítima das nossas das nossas crenças das dos nossos boicotes.

 

Olhando hoje para a sua trajetória, o feminismo te ajudou ou foi a alavanca que você precisava? Por quê?

 

O feminismo para mim trouxe poder, sabe? Principalmente, e é muito por isso que eu criei o Vamos Juntas, porque eu percebi que eu não sou louca! Que eu penso tudo isso, que eu sinto tudo isso e eu não sinto tudo isso sozinha. Eu acredito que a gente pode ter uma sociedade com mais equidade, com mulheres mais bem aceitas e mais plenas. E outras mulheres acreditam também. Então o feminismo para mim é sororidade, sabe? Eu não acredito num mundo em que a gente vai ter mais equidade sem sororidade, porque eu acho que é dessa força que tudo vem, dessa coisa de conversar. Como disse a Márcia Tiburi no prefácio do meu livro, quando a gente se une com outras mulheres, nós acabamos sendo um perigo político para sociedade, porque essa união faz com que a gente troque e perceba que se tal coisa está acontecendo com uma e aquela mulher não aceita, então eu também não preciso aceitar que tal coisa aconteça comigo. Essa união nos traz poder poder. Eu não acredito em feminismo sem sororidade. Então, o feminismo para mim foi muito isso, essa sensação de que eu não estou sozinha com todas essas ideias. Existem mulheres que também estão percebendo tudo isso, o quanto o mundo é sexista e nós vamos fazer alguma coisa juntas! Eu acho que o primeiro passo é essa identificação, de perceber que a gente está num mundo desses. O segundo momento é de pensar que sozinha eu posso não conseguir, mas juntas a gente consegue, né? O feminismo me ajudou a ter força, perceber que eu não estou sozinha e não estou louca, que são duas coisas que as mulheres sentem muito: solidão e essa sensação de que são loucas. A sororidade e o feminismo me trouxeram antídotos para esses dois sentimentos.

 

Para finalizar: por que ser feminista?

 

Porque a gente se ama. Acho que apenas isso. O feminismo é a ideia radical de que a gente é gente. Não teria como eu estar contra mim mesma, então simplesmente por isso que a gente precisa ser feminista.

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