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Crimes

Santa Cruz registra 135 casos de violência doméstica por mês

De janeiro a julho de 2018 a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher registrou 814 casos

por Lucimara Silva

"Jovem é morta pelo ex que não aceitava fim do namoro", "homem mata mulher e filha após discussão", "advogada tem parte do corpo queimado por marido agressivo", "catadora de lixo relata apanhar todos os dias de companheiro", "estudante é arrastada pelos cabelos na Universidade por namorado ciumento". Todas essas manchetes são de notícias reais e milhares delas acontecem diariamente em todos os lugares do Brasil e do mundo.

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Um total de 87 mil mulheres foram vítimas de feminicídio em 2017, segundo um relatório publicado no dia 25 de novembro deste ano pelas Nações Unidas. Mais da metade delas, cerca de 50 mil, foram assassinadas pelos companheiros, ex-maridos ou familiares. Isso significa seis feminicídios cometidos por conhecidos a cada hora. Em termos de distribuição geográfica, a África e as Américas são as regiões em que há mais risco de as mulheres serem assassinadas por companheiros e familiares.

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Em Santa Cruz do Sul, de janeiro até julho de 2018, a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (DEAM) registrou 814 ocorrências, uma média de 135 por mês. Deste número, 273 são ameaças, 156 são lesões corporais e 14 prisões em flagrante. Há 95 medidas protetivas deferidas e 312 indeferidas, ou seja, nem todos os casos são solucionados. Além disso, desde janeiro houve dois crimes configurados como feminicídio – violência contra a mulher seguida de morte. Em todo o ano passado foram registradas 1.506 ocorrências.

 

"Os primeiros sinais de agressão vieram a partir do momento em que o casal decidiu morar junto

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A realidade está mais próxima do que se imagina. Uma estudante de Comunicação Social Relações Públicas na Universidade de Santa Cruz do Sul, aos 24 anos, foi vítima de violência doméstica. A jovem preferiu não se identificar e conta que após cerca de dois anos de namoro, os primeiros sinais de agressão vieram a partir do momento em que o casal decidiu morar junto. Até então, não havia qualquer sinal de que o companheiro seria uma pessoa violenta. “É muito sutil no início. Mas comecei a notar quando estávamos entre amigos e eu percebia que ele não me tratava do mesmo jeito que ele tratava as outras pessoas. Ele sempre me cortava, tudo o que eu dizia estava errado e ele estava sempre certo”, recorda. A estudante conta nunca ter passado trabalho na vida. De classe alta e filha de empresário, nunca imaginou um dia ser vítima de violência doméstica.

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A violência doméstica não se configura apenas em agressão física. Conforme a delegada da DEAM, Lizandra de Castro de Carvalho, há vários tipos de violência que podem ser vivenciadas dentro de um relacionamento, como física, moral, patrimonial, sexual e psicológica, que acontece quando há intenção de controlar a companheira por meio de assédio, ameaças, xingamentos, isolamento, humilhações, insultos, chantagens, zombaria, perseguições e limitação do direito de ir e vir.

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Foi esse o tipo de violência enfrentado pela jovem estudante, até passar para agressão física, como empurrões e ameaça de estrangulamento. “O ápice foi quando ele me empurrou e começou a apertar o meu pescoço. Quando ele me soltou, disse que eu estava louca e que ele só tinha me empurrado”, desabafa. Segundo a vítima, ela ainda o perdoou e seguiu o relacionamento, afinal, moravam juntos há apenas três meses e ela não queria jogar tudo fora. Até que, em um janta em família, ele agrediu a própria mãe, com gritos e apertões no rosto. “Neste dia eu resolvi terminar tudo, pois se ele fez aquilo com a própria mãe, imagina o que ele não faria comigo, que não tenho nenhum grau de parentesco”, desabafa.

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Muitas mulheres não têm a mesma atitude da jovem para terminar o relacionamento. Algumas se mantêm reféns de companheiros agressores por anos e o final de muitas dessas histórias é a morte. De acordo com a delegada Lisandra, é importante que as mulheres estejam atentas aos sinais. “Comportamento controlador, expectativas irreais, hipersensibilidade, ciúmes, agressividade com animais, crianças e idosos, abuso verbal e sexual, entre outros já são motivos de denúncia e servem para as vítimas repensarem seus relacionamentos”, explica. A titular da delegacia incentiva às mulheres a denunciarem. “Não se calem. Denunciem”.

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Denúncia

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Brigada Militar - 190

Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento - 3711 2121

Delegacia da Mulher - 3713 4340

Disque-denúncia (anônimo) - 180

Escritório de Defesa dos Direitos da Mulher - 3715 1895

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No mapa abaixo, você confere os últimos cinco casos de feminicídio registrados em Santa Cruz do Sul. O levantamento foi feito pela reportagem do Portal Gaz

Violência doméstica - Lucimara Silva
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